sábado, 9 de julho de 2011

O DIREITO DE SER DIFERENTE



* Texto retirado http://www.bdsmbrasil.com.br/
Talvez você praticante ou iniciante no mundo BDSM já saiba o que vamos dizer aqui, mas é sempre bom trazer o assunto à tona.

Em 1973 a Associação Americana de Psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade como doença. Infelizmente foram quase vinte anos (1990) até que a OMS retirasse o homossexualismo do CID (código internacional de doenças). Importante ressaltar aqui a mudança do sufixo 'ismo' que significa doença para 'ade' que significa característica do ser (homossexualismo agora é homossexualidade).

Mas a alegria acaba ai, pois Sadomasoquismo (olha o 'ismo' ai) ainda é considerado doença e assim sendo, deve ser tratado com remédios e terapias. O pior de tudo são os vizinhos do Sadomasoquismo. Ele está classificado no CID 10 que é o Capítulo de Transtornos Mentais e comportamentais e no sub-título F65.5 – Desordens de preferência sexual. Se você tiver a curiosidade de olhar o CID verá que o F65.4 é pedofila. Ou seja, os praticantes de BDSM estão colocados no mesmo patamar dos pedófilos. Não em termos legais é claro, mas perante a medicina somos tão loucos quanto os pedófilos.

Este artigo não é para assustar ninguém, justamente o contrário. Nós praticantes de BDSM devemos sempre que possível esclarecer e trazer luz ao tema. Parece que os médicos e a sociedade esquecem de um detalhe crucial na prática responsável do BDSM: SSC – São, Seguro e Consensual. Isto quer dizer o seguinte: os atos praticados não colocam em risco a vida ou sanidade mental e emocional dos envolvidos, são praticados entre adultos (maiores de 18 anos) de livre e própria escolha e acima de tudo, são sempre de forma consensual, ou seja, todas as partes envolvidas concordam e encontram prazer no que fazem.

Fica claro pelo exposto acima que só por isso o BDSM não pode ser colocado na mesma prateleira da pedofilia e por motivos bem óbvios. Assim como a homossexualidade enfrentou (e ainda enfrenta) preconceitos pelo mundo afora, os praticantes de BDSM tem um longo caminho a percorrer. Falta de informação e preconceitos são grandes inimigos. Mas também temos muitos inimigos em nossas próprias fileiras. O sujeito que aparece no telejornal vestido de couro e é acusado de matar outro que estava amarrado na cama. A matéria termina dizendo que 'eram praticantes de sadomasoquismo'. Falsos dominadores e falsos submissos.

Mas não para por ai, o próprio termo sadomasoquismo já carrega uma carga bem grande de preconceito pois as pessoas generalizam os fatos. E citamos aqui o livro de Wilma Azevedo – Sadomasoquismo Sem Medo. Nele, entre outras coisas, a autora classifica:

I – SADISMO-MALDOSO: (S.M.) prazer em causar malvadeza ou perversidades (ex: sadismo usado nas torturas e repressões políticas, com ou sem erotismo. A ditadura. Atos de alguns policiais nos porões das delegacias quando desejam extrair confissões do prisioneiro. Quando se infringe leis absurdas em nome da pátria ou da religião, etc.) Tudo que vem de encontro à dignidade humana. Esse tipo de sadismo deve ser submetido aos rigores da lei.
Freud em seu extenso estudo sobre sexualidade concluiu que a sexualidade humana é por condição perversa, pois ao contrário dos demais animais do universo, não se baseia unicamente na reprodução. Por isso o ato sexual humano abrange práticas que não se observa na natureza: sexo oral, sexo anal, masturbação mútua, etc. E apesar desses atos sexuais não serem observados nos demais animais do planeta, nem por isso são considerados desvios sexuais. Então porque amarrar um parceiro, se esse ato gera prazer e satisfação tanto para quem está amarrado como para quem está amarrando, é um desvio sexual? A próxima revisão do CID está prevista para 2015. Discuta com outros praticantes de BDSM o que podemos fazer para influenciar a reclassificação do nosso fetiche.

Para finalizar esse artigo gostaríamos de lembrar que cresce o número de cientistas e pesquisadores que defendem que a homossexualidade é algo que já vem programado no código genético da pessoa. Não é uma questão de escolha, mas a pessoa simplesmente nasceu assim. Não ficaremos surpresos se daqui alguns anos descobrirem que o mesmo ocorre com o BDSM.



II – SADISMO-PSICOPÁTICO: (S.P.) doença, esta sim, mental (ex: os estupradores. Assassinos em série. Mania de perseguição chegando ao assassinato porque o outro é persona non grata. Nesses casos o doente cria em sua mente mal querências e rancores inexistentes). Esses psicopatas devem ser tratados pela medicina.

III – SADISMO-ERÓTICO: (S.E.) nos casos, em que adultos, de comum acordo, praticam “torturas deliciosas” tendo prazer e causando prazer ao parceiro, num perfeito equilíbrio e respeito pelo limite do outro, onde tudo não passa de um jogo. O sádico-erótico só se satisfaz se estiver satisfazendo o tesão, estimulando o erotismo, e dando prazer sexual a si e ao companheiro. Isto é, contribuindo para a felicidade do outro. Nessa prática, não chega a causar danos físicos ou de foro íntimo.

I – MASOQUISTA-COMPULSIVO: (M.C.) quem sofre de compulsão de morte e, não tendo coragem de se matar, entrega-se de forma definitiva a S.M. (Sádicos-Maldosos) ou a S.P. (Sádicos Psicopáticos) para ser eliminado, num clima supostamente tido como erótico. Ex.: casos acontecidos na “La Societé de Sade” em Paris, ou na “Samos S/M. Club” na Holanda, onde verdadeiros rituais macabros são realizados. Muitos “escravos” que se oferecem ao sacrifício morrem no cerimonial. Através de um “contrato” firmado em cartório, fazem suas próprias leis. Atuam na ilegalidade, estão sempre mudando de endereço e usam o seu “poder” para ditar as próprias regras. Matam e morrem em busca de um prazer mais intenso, que pensam conseguir só dessa forma. Freud denominou-o “masoquista-moral”.

II – MASOQUISTA-ALIENADO: (M.A.) pessoas que não sabem o que querem, ou pela desinformação ou por desconhecerem seus limites. Aqui se enquadram pessoas submissas pela imposição social. Exemplos: 1 – a condição feminina perante a sociedade machista, culturalmente exercida por séculos, com direitos e privilégios para os homens, deveres e prejuízos para as mulheres. 2 – aqueles que sonham e fantasiam cenas, excitam-se ao máximo,imaginando punições ou castigos, humilhações e degradações, sem avaliar as situações. Querem realizar suas fantasias sem saber qual método usar. Chegam a pôr em risco sua integridade física. Muitas vezes, na prática, não funciona o que foi idealizado na teoria. Em vez de parar, o indivíduo é levado por um desejo insano de conseguir realizar sua fantasia. Outros, ao perceber que não aguentam nem a metade do que imaginaram,  forçam prazeres nem sempre conseguidos. Seus devaneios, intensos na fantasia, não trazem satisfação na realidade. Não se importam de sofrer até as últimas consequências, além de seus limites, sabendo que podem chegará morte.

III – MASOQUISTA-ERÓTICO: (M.E.) quem sente prazer em ser humilhado, degradado física e mentalmente, sabendo transformar tudo, inclusive a dor, em prazer e excitação. Os praticantes de parafilias diversas vêm de encontro a muitos padrões de comportamento. Principalmente quem curte a dor é considerado fora do padrão “normal”. Mas é preciso saber que o corpo “avisa” através dos nervos, ao cérebro, quando a dor o atinge. Por meio de métodos ainda pouco pesquisados, já podemos alcançar explicações para o fenômeno da dor aliada ao prazer. O masoquista-erótico sente prazer com a tortura, mas tem seus limites. Busca relacionamento não-violento, sem agressividade. É uma ternura agressiva e uma carícia violenta. Apesar de não ter dedicado grandes estudos aos que sabem transformar a dor em prazer, Freud parece ter denominado de “masoquista-erotogênico”. Nos meus primeiros artigos eu dizia que isso era uma mágica e que mágica não se explica. De acordo com o avanço de minhas pesquisas, essa “mágica” hoje já tem explicação!

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